Na ponta do lápis #31: Nova fase do Corinthians Feminino chega a 300 jogos

A mais recente fase do futebol feminino do Sport Club Corinthians Paulista acaba de atingir a marca de 300 jogos.

Trata-se da maior sequência ininterrupta de jogos da história da modalidade no clube. Mas não é só por isso que o momento é histórico.

Os números do projeto são avassaladores e o Corinthians Feminino é exaltado hoje como o mais avançado e o melhor jamais estruturado na modalidade no Brasil, antigo país do futebol.

Nem sempre foi assim porém.

O futebol feminino adulto no Corinthians viveu uma sucessão de inícios e interrupções desde 1997, quando alguém teve a ideia de lançar a modalidade no clube como um time de supermodelos.

Hoje talvez seja desnecessário explicar o machismo e o sexismo da proposta. Até porque quem ainda não entendeu vai continuar sem entender.

Embora algumas grandes jogadoras tenham passado pelo Corinthians nos anos que se seguiram a esse início torto, o alvinegro em nenhum momento montou um time feminino competitivo antes de 2016.

Confira o raio-x dos 1.000 gols do Corinthians Feminino.

Como foi a mais recente retomada do futebol feminino no Corinthians

À época, a diretoria do Corinthians tinha proximidade com o Audax, de Osasco. O Corinthians precisava desenvolver um projeto de futebol feminino. Já o Audax encontrava-se relativamente bem posicionado numa modalidade então dominada por Ferroviária, São José e Santos.

Hoje diretora do futebol feminino corinthiano, Cris Gambaré viabilizou a aproximação e o clube voltou ao futebol feminino como Audax/Corinthians. Os mandos de jogos costumavam ser exercidos no estádio José Liberatti, em Osasco.

É preciso lembrar que a parceria com o Audax não foi uma adesão espontânea de dirigentes visionários em relação ao futebol feminino. Longe disso.

A direção do clube estava de olho nas exigências do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, mais conhecido como Profut.

Sancionado em 2015 pela presidenta Dilma Rousseff, o Profut refinanciou pelo prazo de 20 anos as astronômicas dívidas dos clubes de futebol com o governo federal.

Os clubes que aderiram também receberam descontos generosos no pagamento de juros e multas. Uma das contrapartidas dos clubes que entraram no Profut era a destinação de um investimento mínimo em futebol feminino.

Hoje é fácil brincar de engenheiro de obra pronta e elogiar o projeto.

O mais provável, porém, é que a retomada do futebol feminino no Corinthians tenha tão dado certo por causa da competência de Cris Gambaré, que já estava de olho no que acontecia na modalidade enquanto os adversários dormiam no ponto ou limitavam-se ao investimento mínimo.

Para comandar o time em campo, Gambaré trouxe o técnico Arthur Elias, campeão brasileiro de 2013 e semifinalista em 2014 e 2015 com o Centro Olímpico.

Iniciou-se assim o período de maior perenidade do futebol feminino do Corinthians até hoje.

A consolidação do Corinthians Feminino como potência da modalidade

O Corinthians desembarcou no futebol feminino em 2016 em um cenário no qual São José, Ferroviária e Santos eram potências consolidadas na modalidade, com títulos locais, nacionais e internacionais.

Em 2016, quando o projeto ainda engatinhava, o Corinthians Feminino viveu dois extremos: acabou eliminado do Campeonato Brasileiro por escalação irregular de atleta – algo impensável no futebol profissional – e conquistou a Copa do Brasil, deixando pelo caminho o Santos e o Flamengo e derrotando na final o São José.

A conquista colocou o Audax/Corinthians na Libertadores de Feminina de 2017. O primeiro título internacional foi conquistado na disputa por pênaltis diante do Colo-Colo. No Brasileirão, o Timão acabou superado pelo Santos na decisão do troféu.

Já o ano de 2018 seria o início da consagração e da consolidação do Corinthians como time a ser batido no futebol feminino. O bi da Libertadores não veio naquele ano em grande parte porque a parceria com o Audax terminou e a Conmebol deu a vaga ao clube osasquense. Em compensação, o Timão conquistaria pela primeira vez o Brasileirão Feminino.

Em 2019, o Corinthians Feminino perdeu o Brasileirão nos pênaltis, mas faturou o bi da Libertadores e conquistou o Paulistão pela primeira vez.

De quebra, as mosqueteiras estabeleceram o recorde mundial de vitórias consecutivas na história do futebol internacional, em qualquer uma de suas modalidades.

Também passaram a mandar jogos em Itaquera, onde ostentam um retrospecto exuberante.

Desde então, Arthur Elias e Cris Gambaré lidam com os poucos ônus do sucesso. Um deles é manter o Corinthians Feminino no topo enquanto os rivais se reforçam na tentativa de vencê-lo.

Os números do Corinthians Feminino até aqui

Tudo isso para celebrar a marca de 300 jogos alcançada ontem, diante do Real Ariquemes, desde a retomada do projeto, em 2016.

Agora em sua oitava temporada, o Corinthians Feminino disputou 17 finais de campeonato. Venceu 14.

Nesses 300 jogos, o time foi comandado da beira do gramado por Arthur Elias em 290 ocasiões. Nas outras dez vezes, quem assumiu foi o auxiliar Rodrigo Iglesias.

O desempenho é avassalador. E elas estão a caminho dos mil gols, o que talvez aconteça ainda em 2023.

Confira os números:

Ano

Jogos

Vitórias

Empates

Derrotas

Gols a favor

Gols contra

% de pontos

Média de gols

2016

36

21

10

5

99

33

67,59

2,75

2017

47

35

7

5

149

23

79,43

3,17

2018

42

33

7

2

114

28

84,13

2,71

2019

47

43

3

1

146

19

93,62

3,11

2020

32

27

3

2

98

18

87,5

3,06

2021

48

42

4

2

182

26

90,28

3,79

2022

43

31

6

6

107

30

76,74

2,48

2023*

5

5

0

0

26

2

100

5,20

Total

300

237

40

23

921

179

83,44

3,07

*A temporada de 2023 ainda estava em andamento quando este texto foi escrito.

One thought on “Na ponta do lápis #31: Nova fase do Corinthians Feminino chega a 300 jogos

  1. Belo texto, Ricardinho. E um prazer ainda maior testemunhar a história sendo escrita.
    Essas meninas são sensacionais e já tive a honra de comemorar um título Paulista e um Brasileiro em Itaquera.
    Incluindo o recorde de público em um jogo feminino no Brasil, ao lado da minha filha. Quer emoção maior que essa? Só gritar gol e cantar o hino do Timão junto com a Fiel.
    Valeu, Brabas! Vai Corinthians!!!

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