Na ponta do lápis #29: o jogo 6.000 do Corinthians vem aí

O Corinthians começa 2022 fazendo história. Na terça-feira, quando enfrentar a Ferroviária na estreia dos dois clubes no Campeonato Paulista deste ano, o Timão fará o jogo de número 6.000 desde sua fundação, em 1910.

Num primeiro momento, quem lê essa informação pode até pensar se tratar de algo corriqueiro. Afinal, o alvinegro escreve sua história a cada dia, a cada jogo, há 111 anos.

Obviamente, um dia o jogo 6.000 chegaria para um clube do tamanho do Corinthians. Assim como dentro de alguns anos chegará o jogo 7.000.

Uma epopeia em andamento

Mas se existe uma atividade que em nada é banal é a preservação da história do SCCP. E por isso é importante saber como chegamos a esse número.

Durante décadas, a história de um dos clubes mais populares do mundo foi contada em forma de epopeia.

Cada feito glorioso, cada tragédia, tudo era incorporado à poesia épica que é a história do Sport Club Corinthians Paulista.

Inspirado pelo Corinthian da Inglaterra. Pela passagem de um cometa. Fundado sob a luz dos lampiões. Por operários, imigrantes, despossuídos. Que no peito e na raça ocuparam seu lugar na mesa dos quatrocentões, que reviravam os olhos, torciam o nariz, dificultavam ao máximo os caminhos do time do povo.

Um por todos, todos por um

O campeão dos centenários. O campeão dos campeões. O time da virada, dos mosqueteiros, do ataque centenário, da fiel torcida. Único a derrotar o então todo-poderoso Torino. O alvinegro que colocou o Barcelona de joelhos.

Foi também o faz-me-rir, o time do jejum – de títulos, de vitórias sobre o Santos de Pelé –, o que nunca seria.

De tantas voltas por cima. Do fim da fila. Do fundo do poço ao topo do mundo em tempo recorde. Da torcida que invade o Maracanã e depois vai ao outro lado do planeta ocupar o Japão.

Da história oral aos registros históricos

Por tantos e tantos anos, essa epopeia foi uma história oral, narrada por bardos, trovadores. Com direito a alguns exageros e omissões aqui e ali, pois não se deve cobrar dos poetas do povo que sejam de ferro ao cantar as glórias e minimizar as tragédias na vida com seu grande amor.

Faltava contrapor a epopeia ao crivo dos fatos. Foi só 90 anos depois da fundação do Corinthians, no ano 2000, que surgiu o primeiro registro confiável para ajudar a quantificar o tamanho dos feitos do Corinthians. Falo da primeira edição do Almanaque do Timão, de Celso Unzelte.

Entendeu-se então que a abnegação dos atletas e dos torcedores ao longo das décadas estendia-se aos jornalistas, pesquisadores, historiadores e curiosos sobre a história alvinegra. Do sr. Antoninho de Almeida até hoje.

Passado cada vez menos incerto

Graças a esses esforços, o passado do Corinthians é cada vez menos incerto. Mas ainda pode mudar.

Quando o primeiro Almanaque do Timão chegou às bancas de jornal, a fatídica eliminação para o Palmeiras na Libertadores de 2000 era o jogo de número 4.536. A contagem incluía jogos de torneio início, que mais tarde seriam tirados do cômputo. Hoje, na versão digital do Almanaque, aquele é o jogo 4.504.

Pouco depois da publicação da primeira edição do livro, o historiador corinthiano Plínio Labriola entregou a Unzelte uma anotação com diversos jogos com resultado desconhecido. Essa lista cresceu.

Descobriu-se de quase tudo desde então: alguns dos resultados perdidos, jogos que acabaram não acontecendo, outras partidas desconhecidas que escaparam às primeiras pesquisas e até um título anterior ao que se acreditava ser o primeiro troféu corinthiano.

Pode ser, pode não ser

O fato é que esse confronto com a Ferroviária pode ser o jogo 6.000. Ou não, diria Caetano.

Também pode ser que o jogo 6.000 tenha acontecido no ano passado (caso novos jogos ainda não registrados venham a ser descobertos), ou ainda esteja por acontecer uns dias mais pra frente (se for constatado que algum dos jogos com resultado desconhecido na verdade não chegou a ser realizado).

Ainda é preciso lamentar o descaso dos dirigentes do clube com a própria história. Um jogo com esse apelo todo na abertura da temporada poderia ser uma ocasião festiva. E até lucrativa, por que não?

Algum de nossos tantos adversários históricos poderia ter sido convidado para um amistoso. Podia ser em Itaquera. Talvez até na Fazendinha. Enfim.

O que fica é que, graças ao trabalho de pessoas como o sr. Antoninho de Almeida, Celso Unzelte, Plínio Labriola e tantos outros que eu nem saberia aqui mencionar, o passado do Corinthians hoje é cada vez menos incerto.


 

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