Que o Fluminense é um clube para o qual o tapetão é um meio de sobrevivência é de conhecimento quase universal. Mas essa história de reivindicar validação de gol irregular me obriga a algo que não é muito do meu feitio (a saber, escrever sobre outros clubes que não sejam o Corinthians sem que haja a justificativa do confronto direto), pois vem extrapolando todos os limites, até mesmo os do próprio Tapetense, como prefiro me referir ao tricolor carioca.
No jogo de volta das oitavas-de-final da Copa do Brasil o Fluminense teve três gols irregulares corretamente anulados. Na saída do gramado, a reclamação referente à anulação dos gols poderia ser atribuída ao fato de estar todo mundo com a cabeça quente e ficaria por isso mesmo. Na partida seguinte, novamente contra o Corinthians, mas válida pelo Campeonato Brasileiro, o Fluminense venceu com um gol irregular marcado no último minuto e originado de uma falta inexistente. Atletas, técnico e dirigentes deixaram Itaquera congratulando-se pelo mérito. Provavelmente o mérito não muito esportivo de terem, com sucesso, influenciado a apitagem a errar em seu favor.
Passa uma rodada, chega outra e hoje só se fala no gol anulado do Fluminense no clássico contra o Flamengo. O gol foi marcado em impedimento coletivo. O bandeirinha acertou, mas o árbitro inicialmente fez lambança, cedendo à pressão do Tapetense, mas na sequência acertou ao voltar atrás e anular o lance. Agora a diretoria do Tapetense quer anular a partida por suposta interferência externa na decisão do árbitro Sandro Meira Ricci.
Ora, ora. Quando o assunto é Campeonato Brasileiro, o Tapetense já possui mais conquistas extracampo do que dentro de campo. É preciso lembrar as tantas vezes que a já escassa credibilidade do futebol brasileiro foi colocada em xeque apenas para que se beneficiasse o Fluminense? Rebaixamento anulado em 1996. Acesso à Série A sem ter que disputar a Série B no ano 2000. Mais recentemente, o episódio digno de filme de máfia que evitou o rebaixamento do Tapetense em detrimento da Portuguesa, que agora caiu para a Série D e, ao que tudo indica, vai simplesmente fechar o departamento de futebol profissional. É uma capivara e tanto. E isso sem contar episódios menores em impacto, mas nem por isso menos escandalosos.
Uma coisa é reclamar no calor do jogo. Depois a pessoa olha o VT, vê que errou e fecha a boca. Outra coisa é saber que está errado e pretender transformar a ilegalidade em uma norma talhada sob medida na defesa de um interesse particular e que depois vai ser colocada de lado para uso posterior de acordo com os interesses em jogo.
No fim, a presença do Fluminense na Série A está para o Brasileirão como Michel Temer está para a presidência do Brasil: ambos são ilegítimos, originados em fraudes e golpes patrocinados por representantes de interesses inconfessáveis que prevalecem sobre interesses legítimos da maioria.
Comparando um e outro, a diferença é que o golpe parlamentar vai aniquilar o futuro de pelos menos duas gerações de brasileiros, enquanto as viradas de mesa que mantiveram o Fluminense na primeira divisão se limitam ao mundo esportivo. No mais, a essência é a mesma.
É impressionante como os caras querem mudar os fatos em favor dos interesses deles. O que a CBF deveria fazer – e nunca fará porque ali só tem mafioso – era suspender o Tapetense do campeonato. O juiz voltou atrás, adotou a decisão correta e o Tapetense quer anular o jogo porque queria que um gol ilegal fosse validado. Comportamento típico de um país de golpistas.