Corinthians volta ao estádio onde liquidou o Barcelona em 1953

Depois de empatar com os reservas com a Portuguesa na noite de sábado, o Corinthians vai estrear na Copa Libertadores de 2025 na quarta-feira diante do Universidad Central da Venezuela.

O jogo de ida da segunda fase da competição sul-americana marcará o retorno alvinegro ao Estádio Olímpico de Caracas depois de quase 70 anos.

O local da partida abrigou alguns dos momentos mais brilhantes daquele é considerado por muitos o melhor time da história do Corinthians.

O Timão não joga no estádio desde 1953, quando disputou a Pequena Taça do Mundo.

Na ocasião, além de conquistar o troféu, o Corinthians acabou com o Barcelona sob todos os aspectos possíveis.

Essa história exige contexto.

Aquela seria a terceira edição da Pequena Taça do Mundo, uma competição internacional financiada por empresários venezuelanos envoltos em tentativas de legitimar a ditadura militar recém-instalada no país.

O nome oficial da competição era Troféu Marcos Pérez Jiménez, uma homenagem ao então ditador venezuelano.

Os participantes eram invariavelmente times tradicionais da América do Sul e da Europa.

Os convidados originais da edição de 1953 foram Vasco da Gama, Milan e Barcelona. Uma seleção local deveria fazer o papel de figurante.

Havia uma percepção entre os convidados originais de que o torneio de 1953 teria sido organizado de modo a privilegiar o Barcelona.

Isso porque o Real Madrid disputou a competição em 1952, conquistou o troféu e houve grande repercussão na Espanha.

Os dirigentes e os torcedores do Barcelona também queriam ter um “mundial” para chamar de seu. Isso lembra alguma coisa?

A questão é o que o Vasco e o Milan declinaram do convite. Os organizadores chamaram então a Roma e o Sporting Lisboa.

O time italiano topou a aventura, mas o clube português rejeitou o convite.

Na última hora, os organizadores então chamaram o Corinthians, que andava interessado em excursões ao exterior — e no dinheiro gerado por elas — e aceitou ir à Venezuela.

O Barcelona era considerado o favorito. O time catalão contava com César Rodríguez e Laszlo Kubala.

Antes da chegada de Lionel Messi e Luis Suárez a Barcelona, os dois ostentaram por décadas respectivamente os postos de maiores artilheiros da história do Barcelona.

Já o Corinthians dispunha de Cabeção no gol, Homero e Olavo na zaga, Idário, Goiano e Roberto Belangero no meio de campo e um ataque com Claudio, Luizinho, Carbone e outros nomes que fizeram história no Parque São Jorge.

Começa o espetáculo

O confronto inaugural do torneio ocorreu em 11 de julho de 1953, ocasião na qual a Roma venceu a Seleção de Caracas por 2 x 1.

Todos os jogos da competição (disputada por pontos corridos, em turno e returno) foram realizados no Estádio Olímpico de Caracas.

Três dias depois, o Corinthians venceu o time italiano por 1 x 0, gol de Luisinho, o Pequeno Polegar.

No dia 16, uma surpresa: a Seleção de Caracas saiu perdendo para o Barcelona, mas virou o jogou e acabou vencendo por 3 x 2.

Dois dias se passaram e o time catalão entrou em campo pressionado contra o Corinthians.

Luisinho abriu o placar para o Timão no primeiro tempo.

Moreno empatou na volta do intervalo, mas Carbone recolocou o alvinegro à frente e Luizinho ampliou.

Kubala chegou a descontar, mas o Corinthians venceu por 3 x 2 e se isolou na liderança do campeonato.

Em 21 de julho, o Corinthians enfrentou a Seleção de Caracas. O Timão venceu por 2 x 1. Todos os gols saíram no segundo tempo. Cláudio e Carbone colocaram o alvinegro em vantagem e Aguirre descontou para o time da casa.

O primeiro turno terminou no dia 23, quando o Barcelona derrotou a Roma pela contagem mínima.

Como cada vitória valia dois pontos, o Corinthians terminou o primeiro turno disparado na liderança, com seis pontos.

Barcelona, Roma e Seleção de Caracas tinham cada um dois pontos.

O returno começou em 25 de julho com um empate por 2 a 2 entre Roma e Seleção de Caracas.

Diante do resultado, uma vitória corinthiana sobre o Barcelona em 27 de julho garantiria ao Timão o troféu com duas rodadas de antecipação.

Não é que o jogo foi brigado. Ele terminou em quebra-pau generalizado depois de o Corinthians vencer por 1 x 0.

Um gol de Goiano garantiu a taça hoje em exposição no Memorial do Parque São Jorge.

Era preciso cumprir a tabela, porém.

Dois dias depois, a Roma voltou a vencer o Barcelona, desta vez por 4 x 2.

Em 31 de julho, dois gols de Cláudio garantiram a vitória corinthiana por 2 x 0 sobre a Seleção de Caracas.

No dia seguinte (não tinha essa coisa de esperar 48 horas), o Barcelona venceu o time da casa por 3 x 2.

O último jogo do Corinthians na competição ocorreu em 2 de agosto. O Timão derrotou a Roma por 3 x 1.

Cláudio abriu o placar aos 29 do primeiro tempo, mas o time italiano empatou no minuto seguinte.

No segundo tempo, Luisinho marcou duas vezes para garantir a campanha perfeita do Corinthians na Pequena Taça do Mundo, com seis vitórias em seis jogos.

A Roma acabou vice-campeã, com o Barça na modesta terceira colocação.

Há relatos de que o Barcelona teria tentado forçar um terceiro turno.

Mesmo que isso ocorresse, porém, o azul-grená precisaria de uma campanha perfeita mais um quarto turno (além de torcer por uma degringolada alvinegra) para tirar o título do Corinthians.

O fato é que os craques corinthianos regressaram ao Brasil em 3 de agosto de 1953, depois de uma incontestável campanha e foram recebidos por uma multidão em Congonhas.

Nem por isso a Fiel alega que o troféu equivale a um mundial.


 

2 thoughts on “Corinthians volta ao estádio onde liquidou o Barcelona em 1953

  1. História fantástica contada e escrita de maneira saborosa. Parabéns, Ricardo!! Que o Corinthians mantenha sua história de conquistas nesse estádio. Vai Corinthians!!

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